terça-feira, 4 de abril de 2017

Trabalho e (im)Previdência - Não dá para fechar o olhos e os ouvidos!



No dia 03 de abril, Ir. Fátima e eu participamos da “Conversa de Justiça e Paz” e achei muito valiosa a reflexão que partilho com vocês o que consegui anotar, pois o momento é de reflexão, união e mobilização. Não dá para ficarmos alheios/as ao que está acontecendo no País.

O tema da conversa foi “TRABALHO E (IM)PREVIDÊNCIA” e foi conduzida por dois peritos no assunto: Dra Luciana Jaccoud e Dr. Mauro de Azevedo Menezes.

O assunto tem sido discutido de maneira ampla por muitas entidades. A responsabilidade do Estado é muito grande. Deve garantir as pessoas que perdem a capacidade de trabalhar uma renda para a sua sobrevivência. A Previdência não está ligada somente aos que se aposentam por tempo de serviço. Há outras situações para as quais a sobrevivência deve ser garantida. É renda que sai dos próprios trabalhadores, através de arrecadação e tributos. É direito social. É o próprio trabalhador que cotiza. Opera com transferência de gerações. Uns contribuem enquanto outros a recebem.

Em 1988 houve significativa mudança na Constituição. Ampliou o pacto. A Previdência foi estendida ao trabalhador rural como solidariedade contributiva e também aos idosos e portadores de deficiência através do BPC (Benefício de prestação continuada). A Constituição de 1988 reconhece: a) os aposentados por contribuição e tempo de serviço; b) Os idosos e inválidos; c) os beneficiários do BPC. Essa mudança tem sido criticada com a afirmação que é insustentável. O Estado não está preocupado com a população mais vulnerável. O que precisa é estender o seu campo de assistência e não reduzir.

Atualmente a Previdência atende a 82% de aposentados com mais de 60 anos. Se tirar essa renda acontecerá um enorme impacto na sociedade.

ALGUMAS PROPOSTAS DA REFORMA:

a) Tempo de contribuição para ter acesso a aposentadoria – aumento de 15 para 25 anos; b) Regra única para homens e mulheres – 65 anos;
c) Regra única para trabalhador urbano e rural.
d) Aumento de idade para receber o BPC para idosos – 70 anos;
e) Desvinculação do BPC com relação ao salário mínimo. A estrutura da proposta da reforma é de exclusão, cada vez maior das pessoas pobres e vulneráveis.

CONCLUSÕES: A reforma provocará, caso seja aprovada, uma redução no direito de aposentadoria com impactos em

· Aumento da desproteção dos homens. Estima-se que 26% dos que se aposentariam (RGPS – Urbano - Regra Geral de Previdência Social) não conseguirão se aposentar com as novas regras;

· Aumento da desproteção da mulheres. Estima-se que 44% das que se aposentariam (RGPS -  Urbano) não conseguirão se aposentar com as novas regras;

 · Aumento de desproteção no campo. Estima-se que 80% dos que se aposentariam (RGPS - Rural) não teriam capacidade contributiva para se aposentar com as novas regras;

· Aumento da desigualdade entre homens e mulheres;

· Aumento da desigualdade entre urbano e rural;

· Aumento da desproteção de trabalhadores de menor renda e mais baixa escolaridade.

PROPOSTA DA REFORMA:

· Enfraquece a seguridade social em sua capacidade protetiva, impacto distributivo e garantia de condições mínimas, dignas de vida a pessoas com deficiência e idosos

· Ampliará o contingente de trabalhadores sem proteção na velhice;

· Ampliará o número de demandantes da Assistência Social;

· Reduzirá o valor do BPC com impacto negativo nas condições de vida das pessoas com deficiência e idosos beneficiários.

· Ampliará a pobreza e vulnerabilidade entre idosos e pessoas com deficiência;

· Ampliará a pobreza e a desigualdade no País.


REFORMA DO TRABALHO: Também mexe muito no conjunto dos direitos já adquiridos. Já é assustadora a aprovação da emenda constitucional:

a) Teto para crescimento das despesas vinculadas apenas a taxa inflacionária por 20 anos;

b) Aprovação congressual da majoração da DRU (despesas da união) de 20% a 30%.

São medidas perversas que incidirá drasticamente sobre a educação, saúde, assistência social, transporte, moradia... E mais, já aprovada a lei da terceirização que desprotege o trabalhador. A reforma trabalhista que as pessoas tem colocado em segundo plano é tão perversa quanto a reforma da previdência. O objetivo é diminuição de custos trabalhistas e diminuição de flexibilidade de regras trabalhistas no ambiente de negócios. Facilitará unicamente o investidor e não o trabalhador. A reforma está em total descompasso com os princípios e normas da Constituição Federal

No final, a observação feita foi que se acontecerem essas reformas é melhor “rasgar a Constituição Federal”.

Irmãos e Irmãs, é ou não é hora de nos unirmos mais, como cristãos e cristãs? Quem será afetado/a com as reformas?

Os destinatários da nossa Missão, os pobres, os pequeninos, os vulneráveis, crianças, idosos e deficientes! Não dá para fechar o olhos e os ouvidos! Nosso povo ainda não sabe dos impactos que causarão as reformas.

Brasília, 03 de abril de 2017

 Ir. Maria Inês V. Ribeiro, mad

Presidente da CRB Nacional

SDS Bloco H nº 26 Sala 507 Edifício Venâncio II
CEP: 70393-900 - Brasília – DF

Tel.: (61) 3226-5540

quarta-feira, 29 de março de 2017

Um pouco da Assembleia Geral Ordinária (AGO) 2017



A CRB Nacional realizou a Assembleia Geral Ordinária, dia 28 de março de 2017, no Centro Cultural de Brasília (CCB), em Brasília (DF), com a presença da Diretoria, da Equipe Interdisciplinar, Conselho Fiscal, representantes e coordenadores das 20 Regionais e Assessores Nacionais Executivos.

No seu Relatório, a presidente, Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, mad, lembrou que “Animar, coordenar e representar a Vida Consagrada do Brasil é a missão da Diretoria da CRB Nacional. Com alegria buscamos concretizar esta grande e bonita missão acompanhando a caminhada, acontecimentos, celebrações, vitórias, conquistas, desafios, dificuldades, luzes e sombras dos Religiosos e Religiosas das Congregações, Institutos e Ordem no Brasil”.

“Confiantes na ação do Espírito, que faz brotar coisas novas e na presença de Maria, que nos contagia com sua gratuidade e prontidão, saímos depressa para concretizar as propostas do novo Horizonte e as Prioridades assumidas na Assembleia Geral Eletiva em 2016. Nos empenhamos na elaboração do Plano do Triênio 2016-2019 planejando atividades para cada uma das Prioridades em sintonia com as necessidades da VRC, apelos da realidade e da Igreja", relatou.

Foi apresentado alguns projetos que a CRB Nacional conduz na formação permanente da VRC do Brasil e de outros países e na animação da VRC.
  CERNE 2017

 Houve durante a ago, significativas celebrações
 Foi feita a Análise de  conjuntura com a assessoria do Prof. Pedro Gontijo 


 Houve reflexão em Grupos







Foi feito também o lançamento do caderno sobre Leitura Orante da Palavra de Deus - subsídios para a VRC no Ano Nacional Mariano, "Saiamos depressa ao encontro da vida" - CLAR, preparado pelo Pe. Tomaz Hughes, svd, membro da equipe interdisciplinar da CRB.





 Apresentações das Regionais



O Instituto Axis, representado por Sebastião Venâncio e Márcio Moreira, apresentou uma análise a partir de estudos feitos sobre a CRB, enfatizou destaques como: riqueza de conteúdos, força na execução, multiplicidade de projetos e ações, diversidade de públicos e adaptações locais.
A apresentação da AXIS enfocou nas questões do Plano Trienal, avaliação de projetos e lideranças.

Destacou:
Como dar conta da rotatividade de religiosos/as?
Como a CRB é percebida?
O que falta para haver mais pertença?
Seria interessante um software com todos os projetos e ações?
Planilha com diagnóstico das dificuldades regionais?

Considerando as quatro prioridades da CRB, com seus 17 projetos.
Multiplicidade de ações, “Sinais empoderados de futuro” , “Coração ardente e pés peregrinos”, levantou questões como:

  • Seria valioso, importante, um painel de acompanhamento? (painel gerencial, “dashboard”)
  • Seriam relevantes indicadores e metas? (em construção participativa)
  • Conceitos como eficiência e eficácia são necessários?
  • A avaliação da efetividade seria relevante?
  • Como olhar, acompanhar os processos e não apenas os resultados?
  • Uma matriz de prioridades poderia trazer alguma contribuição? - GUTI (agregar ao item “Importância” o “coração e a mística”)

Na Comunicação:
  • Quem são os públicos-alvos? (Definição prévia dos interessados – “stakeholders”), mensuração de acessos, ouvidoria, feedbacks?
  • Banco de perguntas?
  • Como reverter, como evoluir, da “fluidez religiosa e das reações fundamentalistas”?


Entre tantas atividades destacou-se que a Comunidade Missionária Intercongregacional no Haiti, contou, em 2016, com a presença e a significativa ação de 08 Religiosas pertencentes a 08 Congregações:
  1. Ir. Maria Goreth Ribeiro (Filhas de Santa Teresa - Teresianas),
  2. Ir. Rosângela Ferreira da Silva (Missionária de Jesus Crucificado), regressou ao Brasil em setembro de 2016,
  3. Ir. Maria Câmara Vieira (Servas da Santíssima Trindade),
  4. Ir. Ideneide do Rêgo (Irmãs Carmelitas da Divina Providência),
  5. Ir. Marlene Aparecida Avansi (São Francisco da Providência de Deus) regressou ao Brasil,
  6. Ir. Zenaide Laurentina Mayer (Franciscanas de São José),
  7. Ir. Vanderléia Correa de Melo (Instituto das Irmãs Franciscanas de Cristo Rei)
  8. Ir. Helena Margarida ( Fraternidade esperança).



Para Pemba, Moçambique, África, foram enviadas quatro missionárias de diferentes Congregações:
  1. Ana da Glória, da Congregação das Franciscanas Penitentes Recoletinas
  2. Neusa Aparecida Bernardo, da Congregação das Franciscanas da Penitência
  3. Francisca da Silva Maia, da Congregação das Cordimarianas
  4. Telma Silva de Oliveira, da congregação das Irmãs da Purificação de Maria Santíssima

Realizaram-se vários Projetos Sociais, Redes e Parcerias:

Através da valiosa contribuição da Ação Episcopal Adveniat, a CRB Nacional constrói pontes de ajuda a vários Projetos de Proteção Social Básica.
A Rede “Um Grito pela Vida” que tem por objetivo ações contra o tráfico de pessoas, prossegue seu desafiante trabalhos, organizada em 23 núcleos, com mais de 300 Religiosas/os envolvidos. Neste ano celebra 10 e acontecerá um Seminário especial de avaliação e celebração, em Brasília.

Muitas outras parcerias foram concretizadas, somando com várias outras entidades, organismos e a CNBB.

No final, foi feito um agradecimento a todas as Congregações que liberam seus Irmãos, Irmãs ou Presbíteros para assumir a missão na CRB Nacional. Contando com as orações de todos/as, elevamos um hino de louvor ao Deus da Vida pelo bem que a CRB vem realizando de dedicação ao povo de Deus.
Momento especial foi a celebração de entrega da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida para a Regional de Vitória, onde ficará de 01 a 22 de abril.

terça-feira, 21 de março de 2017

Primavera e inverno dos migrantes

 Marko Djurica/Reuters
Pe. Alfredo Gonçalves
Começa a “primavera boreal”, como é chamada essa estação luminosa no hemisfério norte. Para os migrantes, refugiados e prófugos, porém, o céu continua nublado, o horizonte sombrio e o caminho bloqueado por muros, leis e intolerância. Embora sonhem com a primavera, tropeçam a cada esquina com o inverno.
De acordo com as autoridades italianas, de 1º de janeiro/2017 até os dias de hoje, nada menos do que 18.232 imigrantes cruzaram a “rota mediterrânea”, desembarcando nos portos da Itália. Desse total, quase 2.500 são menores desacompanhados. Grande parte provém da Líbia, Eritreia, Etiópia, Sudão, Nigéria, entre ouros países.
Semelhante dados superam em 31% o volume de migrantes desembarcados nas costas italianas no mesmo período de 2016; e em 80% o volume de imigrantes desembarcados em igual período de 2015. Os números crescem a olhos vistos, juntamente com pessoas, grupos e partidos xenófobos e intransigentes, que defendem o fechamento das fronteiras.
Boa parte, na iminência de naufrágio, foram salvos pela Guarda Costeira e conduzidos a um dos campos de acolhida. Estes abrigos, relativamente provisórios, encontram-se superlotados e em situações precárias, no limite de suas possibilidades. O que, nos últimos meses, deu origem a uma série de tensões e distúrbios.
Ontem, 20 de março, realizou-se em Roma uma reunião de cúpula entre representantes de alguns países da Europa e outros da África. Duplo objetivo: de um lado, combater a rede do tráfico de seres humanos, desde o continente africano para o continente europeu; de outro, distinguir aqueles que possuem direito a asilo político, perseguidos pela violência e pela guerra (refugiados reconhecidos) daqueles que não o possuem (migrantes socioeconômicos em geral).
Para além desse objetivo duplo, esconde-se um outro, mais ou menos dissimulado. Tentar frear o fluxo na “rota mediterrânea”, num acordo entre o polo de origem (países africanos) e o polo de destino (Itália/Europa). Mutatis mutandis, repete-se o acordo entre a Turquia e a Europa, concluído meses atrás, também para deter os imigrantes que tentam entrar pela “rota balcânica”.
Pergunta-se: como fazer a distinção precisa entre refugiados, de uma parte, e migrantes sociais e econômicos, de outra? Quais os critérios utilizados? A fome e a carestia, a pobreza e a miséria também matam, e o fazem aos milhares e milhões. Do ponto de vista da dignidade humana, como distinguir as vítimas da perseguição, da prisão ou da morte violenta – por motivos políticos, ideológicos ou religiosos – das vítimas da subnutrição e de uma morte lenta mas inexorável, a morte cotidiana e a conta-gotas?
Do outro lado do Atlântico, o presidente Trump continua trombeteando duramente contra a imigração. Também ali, a primavera parece converter-se em inverno para quem arrisca o futuro nos Estados Unidos. Além do braço de ferro com o pode judiciário, o presidente prossegue a política de militarização das fronteiras, de rígido controle sobre as entradas de imigrantes e de uma deportação mais massiva. Tudo isso em um país cuja história foi estruturalmente marcado pela presença enriquecedora de imigrantes.
Roma, 21 de março de 2017

10 anos de Um grito pela vida!


"Não" ao Tráfico de seres humanos

O tráfico de pessoas é uma grave violação dos Direitos Humanos. É um crime realizado com o propósito de exploração na indústria do sexo, servidão doméstica, trabalho escravo e venda de orgãos. 
"Um grito pela vida" é uma Rede Intercongregacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
Reúne mais de 250 religiosos/as e leigos/as presentes em 22 estados e no Distrito Federal
Integra Talitha Kum - Rede Internacional da Vida Religiosa de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
Ir. Eurides Alves de Oliveira, icm, coordenadora da Rede Um Grito pela Vida, participou da transmissão ao vivo pelo Facebook.com/CRB NACIONAL, juntamente com  as Equipes de articulação e ampliada de coordenação nacional. Falaram sobre a celebração dos dez anos da Rede inter-congregacional, no enfrentamento ao tráfico de pessoas no país.

sexta-feira, 17 de março de 2017

#PeloDireitoàFilantropia

A provincial da Congregação Missionárias Servas do Espírito Santo, Ir. Percila, partilhou com as Irmãs a carta da presidente da CRB, Ir. Maria Inês Vieira Ribeiro, mad, alertando sobre os efeitos da PEC 287 para os trabalhos de evangelização e convocando a todas para a ação para sensibilização dos deputados e senadores.
A carta foi divulgada entre as irmãs sob orientação de apoio da própria Ir. Percila, que também solicitou o uso da rede social para aumentar o engajamento a esta ação.
Assim, tomaram a iniciativa de publicar a carta e o posicionamento no blog das missionárias e criar uma série de artes para Facebook que já estão sendo divulgadas e compartilhadas. Nomeamos a campanha de #PeloDireitoàFilantropia.
Parabéns, Mission
árias Servas do Espírito Santo.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto

segunda-feira, 13 de março de 2017

Brasil em Declínio

 frei betto 7
Frei Betto
Com a atual recessão, a população brasileira já empobreceu 9,1%, segundo dados do IBGE divulgados na primeira semana de março. A economia retraiu 3,6%. É a mais longa recessão da história do país. O consumo das famílias decresceu 4,2% em relação ao ano passado. O desemprego, que já atinge 13 milhões de pessoas, e o endividamento das famílias, são as principais causas do empobrecimento do brasileiro.
Nau sem rumo, o governo Temer não sabe como sair do atoleiro. Mas, como no naufrágio do Titanic, tenta salvar os camarotes dos ricos com “reformas” que ampliam os privilégios da elite e ferem os direitos dos trabalhadores. Hoje, 18% de nossa população, cerca de 37 milhões de pessoas, vivem com menos de meio salário mínimo por mês, o que equivale a R$ 468,50.
A desigualdade social brasileira acentua a disparidade entre brancos e negros. Entre os 10% mais pobres do país, 75,5% são negros ou pardos. Já os brancos são apenas 23,4%. Na ponta de cima da pirâmide, habitada por 1% da população, a parcela mais rica, a proporção se inverte: 79,7% são brancos, e apenas 17,8% são negros e pardos.
Embora a carga tributária brasileira seja das mais altas do mundo, nosso dinheiro some nos ralos da corrupção e do desgoverno. Os serviços públicos são precários: 34,7% da população não contam com coleta de esgoto; 14,6% não têm água encanada; e 11% não dispõem de coleta de lixo residencial. Depois há quem se espante ao constatar o reaparecimento de enfermidades debeladas há um século, como a febre amarela.
Com a aprovação da PEC 55, a despesa obrigatória do governo federal com a educação, que era de 18% da receita líquida dos impostos que pagamos, agora cai para 13% nos próximos 10 anos, e para 10% nos próximos 20 anos. Além de mais pobre, a nação está condenada a ficar mais ignorante.
Toda a proteção social oferecida como direito aos brasileiros mais carentes se encontra ameaçada. Ela foi conquistada pela Constituição de 1988, adulterada pela PEC 55. Graças àquela carta cidadã, foram criados o SUS, o Sistema Único de Assistência Social, o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada. Também a universalização da educação básica, a ampliação do ensino superior, a expansão da Previdência Social à população rural e aos trabalhadores do setor informal. Tudo isso vem sendo desmontado, do mesmo modo que a Petrobras está sendo “higienizada” para ser privatizada.
Em novembro de 2016, o Congresso aprovou a PEC do Teto dos Gastos Públicos, transformada em emenda constitucional em dezembro. Ela desarticulou os mecanismos constitucionais de vinculação do gasto público federal em educação e saúde, e congelou o conjunto dos gastos sociais nos valores atuais. Estima-se que a despesa primária do governo federal destinada à área social sofrerá redução de 20% para 12% do PIB nos próximos 20 anos.
Em resumo, o Brasil caminha de marcha ré. Não haverá nem como se aproximar da ponte que nos levaria ao futuro. Seguimos rumo ao abismo, a menos que a mobilização social leve o país para novos rumos.
Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do ouro” (Rocco), entre outros livros.

Presidente da CRB manifesta-se sobre a Reforma da Previdência

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Brasília, DF, 08 de março de 2017
“Felizes sois vós quando vos insultam e perseguem e mentindo
dizem contra vós toda espécie de mal por minha causa.
Alegrai-vos e regozijai-vos”. (Mt 5,11)

Queridas Religiosas e Queridos religiosos!
É em nome pessoal e em nome da CRB Nacional, que representa mais de 35 mil religiosos e religiosas, que lhes escrevo. Faço-o com o coração entristecido por, mais uma vez, ver os interesses de poucos solaparem os direitos de muitos, especialmente das crianças e jovens mais pobres e vulneráveis. Literalmente querem nos tirar as migalhas.
Pessoas com passado não muito transparente se sentem no direito de legislar e de impor suas ideias, valendo-se do cargo que ocupam como representantes do povo. Como cristãos e como religiosos devemos aguçar o nosso senso crítico para não legitimar posições assumidas que vão contra o Evangelho e os direitos dos mais pobres.
Nos próximos dias estará sendo discutida, e talvez votada, por nosso parlamento, a Reforma da Previdência, na qual o Governo Federal busca alterar a Constituição Federal por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 287/2016. Além de outros absurdos, no bojo dessa reforma, nossos representantes querem extinguir o direito à Filantropia a que muitas instituições beneficentes e de caridade tem direito. Trata-se de um dos efeitos colaterais de contornos imprevisíveis que tal emenda produzirá contra os pobres dessa nação no presente e no futuro.
O deputado federal Arthur Maia (PPS-BA), relator da proposta, tem se pronunciado categoricamente contra as desonerações fiscais em favor de alguns setores da sociedade, em especial das instituições filantrópicas. Chegou ao ponto de apelar à difamação pública dessas instituições centenárias, imputando-lhe adjetivos como: “pilantropia”, “pouca vergonha” e “aberração” no infeliz intuito de desqualificar a imunidade tributária das entidades beneficentes e de assistência social. É triste ver nas redes sociais anúncios do PMDB afirmando: “Se a reforma da previdência não sair – Adeus Bolsa Família – Adeus FIES ...”. Uma campanha bem ao estilo autoritário e segundo a ética de quem a patrocina e, quem sabe, a financia.
O cronograma de tramitação dessa matéria no Congresso Nacional é extremamente curto. Já nos próximos dias, por volta do dia 22/03/2017, deverá ser votada na Plenária da Câmara. O atual domínio da bancada do Governo certamente garantirá a aprovação sem o menor esforço, pouco se lixando com as consequências de tal decisão. O que importa é arrecadar mais impostos.
A única forma de mudarmos esse triste panorama é o engajamento de todos: lideranças, religiosos/as, colaboradores, atendidos das nossas unidades sociais, escolas e universidades, hospitais, centros de atendimentos. Ou nós nos mobilizamos e defendemos o direito das nossas instituições e dos pobres, ou mais uma vez pagaremos a conta dos desmandos palacianos.
Permitam-me oferecer-vos alguns dados e ilustrações para melhor compreensão da gravidade do assunto:
  • Pesquisa do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas - FONIF, realizada a partir de dados oficiais fornecidos pela própria Administração Pública, revela que as entidades imunes proporcionam um retorno social da ordem de 5,92 x 1. Isto é, para cada R$ 1,00 não cobrado em tributos, R$ 5,92 são convertidos em benefício da população, na forma de serviços, empregos, infraestrutura, qualidade de vida e conhecimento. Ou seja: se o governo tirar a filantropia das instituições que prestam esses serviços, ele terá que arcar com a assistência a essas pessoas, gastando 5,92 vezes mais do que arrecada para dar o atendimento necessário. Como percebemos, essa decisão é pouco inteligente e incidirá diretamente na queda ou desqualificação do atendimento dos mais necessitados.
  • As isenções das entidades filantrópicas correspondem a apenas 3% da arrecadação total da Previdência Social, de modo que a suspensão de tal isenção não vai solucionar o problema. A devolução do dinheiro desviado no “propinoduto” daria muito mais resultado financeiro do que terminar com as filantrópicas;
  • Caso as entidades filantrópicas percam esse incentivo, centenas ou milhares de escolas, hospitais, universidades, centros sociais, centros de atendimentos a vulneráveis pertencentes a estas instituições deverão fechar as portas. Milhões de pessoas serão privadas de atendimento digno e humanitário nas unidades atendidas pelas filantrópicas e passarão para a rede pública, já incapaz de oferecer ao nosso povo o mínimo em saúde e educação.
  • A consequência de curto prazo, será o aumento de crianças e adolescentes vivendo na rua, com muita possibilidade de futuramente assaltarem os que hoje lhe negam um tratamento digno. E então, a economia feita hoje, será insuficiente para construir prisões para abrigar os infratores produzidos pelo abandono produzido por tal decisão. Uma pena que a maioria dos nossos políticos não consigam ver além da próxima eleição.
Irmãos e Irmãs, precisamos mobilizar as nossas instituições! Precisamos defender os nossos direitos e os direitos dos pobres e vulneráveis! Não se trata de luta ideológica, mas de posicionamento evangélico.
Como ação prática, sugiro que enviem centenas, milhares, milhões de e-mails, aos deputados e senadores. Usemos as redes sociais para denunciar mais esse abuso de poder econômico e político de poucos que marginaliza quem trabalhou com seriedade durante séculos em favor dos necessitados. Participemos de manifestações públicas com esse objetivo. Alertemos os nossos atendidos, alunos, enfermos, sobre esse perigo e peçamos a eles que se manifestem nas redes sociais contra esse “assalto” a dignidade das instituições e das pessoas. Não poupemos nenhum esforço no sentido de esclarecer e de influir na decisão dos nossos representantes em Brasília.
Termino pedindo a todos os religiosos e religiosas, especialmente aos anciãos, aos enfermos e aos de clausura, que rezem fervorosamente a Deus, para que o Espírito Santo ilumine as mentes e os corações dos que devem decidir nosso futuro. Se Deus ouviu o clamor de Israel quando o Faraó escravizou o seu povo, certamente nos ouvirá também. Ele é Pai e Mãe e cuidará de nós e dos pobres do mundo. Recordo o Evangelho: “Existem certos demônios que só são expulsos mediante muita oração” (Mt 17,21). Quem sabe, estejamos diante de um deles.
Que o Deus bondoso tenha para nosso país olhos de misericórdia e nos conduza pelos caminhos da justiça e da fraternidade. Que a Virgem de Aparecida nos proteja e nos abençoe.
Em união de preces,
IR. MARIA INÊS VIEIRA RIBEIRO
Presidente da CRB Nacional

CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL
SDS Bloco H nº 26 Sala 507 Edifício Venâncio II
CEP: 70393-900 - Brasília – DF
Tel.: (61) 3226-5540